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quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Adélio Bispo pede à Justiça para trocar advogados por defensores públicos federais




Preso por esfaquear Jair Bolsonaro (PSL), Adélio Bispo de Oliveira pediu à Justiça que seus atuais advogados sejam destituídos e que ele passe a ser representado pela DPU (Defensoria Pública da União). Adélio é defendido desde a tentativa de assassinato, em setembro de 2018, pelo escritório do advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior, que está na mira de investigação da Polícia Federal para apurar quem o contratou ou paga seus honorários, tema sempre explorado por Bolsonaro.

As eventuais conexões dos advogados são a peça que falta no inquérito em que a PF busca responder se houve mandantes, comparsas ou financiadores do ataque ao então candidato a presidente da República, durante um ato de campanha em Juiz de Fora (MG). Como a Folha de S.Paulo mostrou em setembro, Adélio já vinha se queixando da falta de contato com Zanone. Em uma carta à família, que mora em Montes Claros (MG), o esfaqueador afirmou que pediria ajuda à Defensoria Pública da União para ser transferido para uma prisão mais perto dos parentes.

A Justiça ainda não decidiu se o autor do crime, que está na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS), pode fazer a alteração na defesa. Os advogados foram notificados e terão que se pronunciar. Zanone disse à reportagem que esteve com o cliente há "uns dois meses" e que, na ocasião, ele não relatou vontade de dispensar seus serviços. "Eu fiquei sabendo [do pedido], mas não me manifestei ainda. Eu sou o curador dele", afirmou o advogado.

Como curador, Zanone é o representante legal de Adélio, que foi considerado pela Justiça inimputável, por ter insanidade mental. O escritório dos advogados particulares, na região metropolitana de Belo Horizonte, foi alvo de buscas da PF em dezembro de 2018. Em março, atendendo a uma reivindicação da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), a Justiça cancelou o pedido de quebra de sigilo de Zanone e mandou suspender a perícia que seria feita nos celulares, computadores e documentos recolhidos no local.

O caso ainda está pendente de decisão. O TRF-1 (Tribunal Regional Federal) da 1ª Região começou a analisar o tema, mas o julgamento foi interrompido no início deste mês. A palavra final deverá ficar com o STF (Supremo Tribunal Federal). Os magistrados debatem a legalidade de uma eventual inspeção nos materiais. Para a OAB, vasculhar as informações do advogado violaria o sigilo profissional dele, garantido pela Constituição.

Zanone sustenta que foi procurado por uma pessoa de uma igreja evangélica frequentada por Adélio que lhe entregou R$ 5.000 em dinheiro em seu escritório e lhe pediu para assumir a causa. Segundo o defensor, essa pessoa desapareceu e não fez mais pagamentos. Agentes ligados à apuração dizem, reservadamente, que a hipótese mais provável é que o advogado tenha entrado no caso para aproveitar a visibilidade que a história lhe daria.