O PT de São Paulo não admite, mas tem problemas com o braço nordestino do partido. Isso pode ser depreendido pela fala do deputado federal e vice-presidente nacional da legenda, Paulo Teixeira. Ao citar uma chapa apenas liderada por Lula ou por Fernando Haddad, Teixeira exclui o governador da Bahia, Rui Costa, de qualquer chance de disputar a presidência da República. Algo que nem o próprio Lula fez quando passou por terras baianas, uma semana após deixar a prisão.
Por mais que haja um discurso de inclusão do Nordeste nas esferas de decisão, o Partido dos Trabalhadores é dominado no plano federal por figuras ligadas ao PT paulista. Lula, ainda que nordestino, foi criado no ABC e de lá emergiu como liderança sindical para o mundo. Apesar da essência pernambucana, o ex-presidente “paulistou”. Por isso é facilmente deglutido pelos líderes partidários do Sudeste. Já Rui, coitado, está a anos-luz de obter a simpatia desse subgrupo petista.
Nem mesmo o senador Jaques Wagner, que iniciou a “tomada” da Bahia do carlismo em 2006 e se tornou um símbolo da expansão do petismo na era Lula, é tão bem quisto nesse seio. Vide a exclusão dele na executiva nacional da sigla, que gerou uma articulação para que o ex-governador baiano assumisse a liderança do PT no Senado. Ou seja, mesmo que em discurso haja o esforço para colocar o Nordeste no centro das discussões pró-PT, na prática não se observa o mesmo empenho.
Mesmo que tenha vindo dos nordestinos uma parcela expressiva dos votos de Haddad, a região é excluída do protagonismo a partir de declarações como a de Paulo Teixeira. No entanto, o próprio vice-presidente da sigla dá sinais da importância que o Nordeste tem para a próxima eleição geral, em 2022. Ele quer que Flávio Dino (PCdoB), um governador bem avaliado, reeleito em primeiro turno e que encerrou o domínio da família Sarney no Maranhão, seja alçado à vaga de vice na chapa. Ou seja, não cabe um nordestino criado como liderança política aqui na cabeça, mas na vice, como coadjuvante, cabe inteiramente.
É certo que Lula e Haddad são os candidatos naturais à presidência da República. O ex-presidente, no entanto, deve permanecer inelegível após as condenações em órgãos colegiados. Mesmo que o ex-prefeito de São Paulo siga como favorito nesse processo, não dá para descartar a emergência de uma figura como Rui, que já se colocou como uma opção. Ainda que o governador baiano não lidere as bolsas de apostas, deixá-lo de lado de maneira tão simplista é uma prova que nem sempre o núcleo petista paulista estaria disposto a abrir mão da sua condição privilegiada de comandar muitas decisões internas da legenda.
Pode não ter sido a intenção de Paulo Teixeira. Porém o deputado federal abriu margem a essa interpretação. Ligeiramente preconceituosa. Mas não existe xenofobia na esquerda, não é mesmo?