O Mercosul e a União Europeia selaram um acordo de livre-comércio entre os dois blocos nesta sexta-feira (28). O acordo entre Mercosul e União Europeia vinha sendo negociado desde 1999 e já esteve prestes a ser fechado outras vezes. O entendimento havia se tornando prioridade para a gestão de Jair Bolsonaro (PSL).
O Ministério da Economia estima que o acordo UE-Mercosul deve representar um incremento de US$ 87,5 bilhões em 15 anos para o PIB brasileiro, podendo chegar a US$ 125 bilhões.
De acordo com informações do Ministério das Relações Exteriores e do Ministério da Agricultura, o acordo comercial cobre temas tarifários e regulatórios, incluindo serviços, compras governamentais, barreiras, medidas sanitárias e propriedade intelectual. O pacto entre os países membros envolve 780 milhões de pessoas.
Na parte agrícola, ainda segundo as pastas, o acerto deve reduzir barreiras no mercado europeu de produtos importantes para o Brasil, como suco de laranja, frutas e café solúvel. Também deve haver redução das tarifas na exportação de produtos industriais.
Conforme fontes em Bruxelas, a cota para exportação de açúcar chegou a 180 mil toneladas que poderão entrar sem cobrança de tarifa. Na carne de frango, a cota também será de 180 mil toneladas.
A cota de carne bovina foi selada em 99,9 mil toneladas, abaixo dos 100 mil como era exigência dos europeus e dos 140 mil que já haviam sido oferecidos em rodadas anteriores de negociação anos atrás. O Mercosul, no entanto, conseguiu reduzir a tarifa intracota.
No setor de vinhos, que era uma das preocupações dos sul-americanos dada à alta competitividade dos europeus, o prazo para a redução de tarifas será longo, principalmente para espumantes.
A conclusão do pacto vem na esteira de uma maratona de reuniões de chanceleres e ministros dos quatro países-membros do bloco sul-americano (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) com os comissários europeus (equivalentes a ministros) do Comércio, Cecilia Malmström, e da Agricultura, Phil Hogan.
A delegação brasileira era encabeçada pelo chanceler, Ernesto Araújo, e pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina. O secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais, Marcos Troyjo, também veio à Bélgica.
Eles estavam em conversas na sede da Comissão Europeia (braço executivo da UE) desde a noite de quarta (26). Antes da cúpula política, negociadores das duas partes haviam discutido detalhes técnicos do documento desde sexta (21).
A União Europeia é a segunda maior compradora de bens do Mercosul (20%), atrás apenas da China. As exportações do quarteto sul-americano para os 28 países do bloco europeu totalizaram 42,6 bilhões de euros em 2018. No outro sentido, a UE vendeu o equivalente a 45 bilhões de euros.
Carnes, soja, café, bebidas e tabaco estão entre os itens mais comercializados do sul para o norte. Na contramão, a UE vende sobretudo veículos e máquinas, produtos farmacêuticos e químicos e equipamentos de transporte ao Mercosul.
As transações incluem também serviços e investimentos. As negociações atravessaram várias fases, com ambos os lados interpondo obstáculos a seu avanço. Inicialmente, os europeus não queriam incluir produtos agrícolas no acerto, e o consórcio sul-americano resistia em reduzir seu imposto de importação.
Em 2004, as conversas foram interrompidas. O diálogo só seria retomado seis anos depois, abrindo uma sequência de nove rodadas de ofertas (até 2012), mas sem render frutos concretos. A parceria voltou à pauta em 2016, mas a esta altura deixando de fora cotas e especificações para carne bovina e etanol (a pedido da UE), restrições logo abandonadas.
Nas últimas semanas, os negociadores europeus tinham se mostrado reticentes em relação às condições oferecidas pelo Mercosul nos segmentos de peças automotivas, produtos agrícolas e serviços marítimos.
Na reta final das negociações, a UE se dividiu em duas frentes: um grupo liderado pela Alemanha e pela Espanha enviou carta à Comissão pedindo que elas fossem encerradas rapidamente.
Já uma ala capitaneada por França e Irlanda assinou uma missiva defendendo que um acordo poderia “desestabilizar a produção e o setor agrícola” e expressando preocupação especial com as cotas a serem definidas para a entrada de carne bovina, frango, açúcar, etanol na UE.